- Sabe... eu não consigo esquecer aquele dia. O dia que ela finalmente disse que me amava.
Isso era maldade. Falei, impetuosamente, o seguinte:
- Ela não prestava.
Era mentira, mas eu tinha que retrucar.
- E as palavras? As que ela me disse?
- Bom... pra ser sincera, elas não valem nada.
- Mas elas me fazem feliz.
- Fazem? Que bom que você ainda acredita nas pessoas.
- É, eu acredito.
- Sorte a sua. Porém, acordará, um dia.
- Não quero isso pra mim. Eu sou diferente!
- Não é algo que você escolha. Não é algo que você queira. É inevitável. Cada um de nós vai calejando aos poucos até que...
- "Até que", o quê?
- Até que palavras entrem por um ouvido e saiam pelo outro. Até que as encaremos como o vento que passa, como o rio que vai embora: leves, limpas, sem nenhum sentido em especial; e o mais importante: elas nunca voltam. E por não voltarem, elas não valem nada.
- Por que?
- De que adianta dar importância a algo que não voltará jamais? Só pra sentir saudades? E viver de passado? Esperando o Grande Retorno? As ações, pequeno, tanto as boas, quanto as más, é o que vão mudar, salvar, ou destruir sua vida. Importe-se com elas... porque com as palavras... bom, eu já cansei de acreditar em letras.
Naquele momento, eu me levantei e saí, sem olhar para trás. A areia parecia gelada como a neve, sob os meus pés. Embora pisasse errante, e o chão e o céu pouco fizessem sentido para mim, justamente depois de tanto tempo, eu me sentia com o dever cumprido. E dessa vez, fora cumprido comigo mesmo.
Joguei meu cigarro na areia fria e o esmaguei, para apaga-lo. E sorri, um sorriso maligno para os outros, mas confortante para mim. Eu tinha um lar para retornar.
(É... talvez eu não seja tão compreensiva assim. Bem... não importa, não é mesmo?)
~ Música - Cash Cahs - Eletric Heats
sunekohair